26/06/10

Á man esquerda.



Mariño Beiras, Marcos e Araceli Varela Sánchez: Á man esquerda, Laiovento, Ames, 2004, 189 páginas.


Livro fundamental para elaborarmos umha diagnose do capitalismo global, da sua crise sistémica atual e ainda das alternativas ao sistema capitalista ao longo de oito entrevistas. Os físicos Martinho Beiras e Araceli Varela som os encarregagos de elaborar esta série de magníficas entrevistas com umha introduçom (suscinta em volume, mas grande em precisom e clareza) onde se apresenta:


a.- A diagnose do capitalismo atual.
b. - A hegemonia e o imperialismo.
c.- Os conflitos de classe e movimentos antissistémicos.


Esta introduçom inicial incorpora afinal do livro umha biografia sobre os principais autores e obras que tenhem refletido a nível mundial sobre estas questons: Samir Ami, Giovanni Arrighi, Pierre Bourdieu, Fernand Braudel, Beiras, Robert Brenner, Peter Gowan, Noam Chomsky, Alex Callinicos, David Harvey, Eduardo Galeano, Naomi Klein, Inmanuel Wallerstein, Eric Hobswan, etc.


A editora Laiovento demonstra umha vez mais a sua decidida aposta por um projeto coerente de análise e esculca das chaves que desde as ciências sociais nos permitem compreeder o funcionamento da sociedade galega, da sua cultura, mas tamém do sistema-mundo.


Em Á man esquerda os teóricos entrevistados som todos de primeiríssima orde no cenário mundial: Giovanni Arrighi, Noam Chomsky, Eduardo Galeano, Robert Brenner, Jean Ziegler, David Harvey, Peter Gowan e Alex Callinicos. Nom imos deter-nos agora nas múltiplas questons que tratam os autores referidos (e à que a introduçom ajuda muito ao leitor nóbel e pouco afeito a certas noçons e categorias da esquerda hoje apagadas até nas faculdades de humanidades) apenas imos desenvolver um elemento: a crítica desenvolvida por alguns destes autores à Terceira Via e a socialdemocracia e que entronca com um artigo que hai poucos dias escrevia Manoel Santos.


A crise sistémica atual exige umha total fratura e remuda do sistema capitalista porque a máxima de "socialismo ou barbárie", que atualiza Iñaki Gil de San Vicente como "socialismo ou caos" é cada vez mais umha realidade polos limites ecológicos do planeta Terra. Contodo, na esquerda anoréxica europeia avunda umha esquerda acomodada e fiel a esta linha da Terceira Via com ramalhaços mais ou menos socialdemocratas: aí estám os Zapatero, Blair ou a traiçom do PCP ao 25 de Abril como lembrava Ana Barradas de Política Operária nas Jornadas Independentistas que organizava o sábado a formaçom marxista-leninista Primeira Linha no CS Gentalha do Pichel.


Para Giovanni Arrighi as Terceiras Vias e a socialdemocracia som em grande parte responsáveis da bolha financeira que permite que Clinton e Blair mantenham o status dos seus países ricos. Nem que dizer tem que se o nível de vida do velfarismo, com o seu consumismo depredaros, nom seria sustentável ainda quando for possível aplicá-lo a todo o planeta, que tampouco o é em termos económicos, veja-se senom a teoria do descenso da taxa do ganho de Marx. Os socialdemocratas europeus, que vivem por certo as suas horas mais baixas nom por acaso, redistribuem a riqueza dentro dos seus países, os do centro capitalista, mas sem preocupar-se polas assimetrias globais e participando e mesmo impulsando o dogma e a praxe ultraliberal por toda a parte.


Noam Comsky lembra que o maior partido socialdemocrata do mundo está no Brasil, o Partido dos Trabalhadores chefeado por Lula:


"Nese momento non poden parar a vitoria electoral, así que o que fixeron foi impor condicións -non soamente os Estados Unidos, senón toda a comunidade financeira internacional e a elite capitalista de Brasil - que son condicións para calquera novo presidente de Brasil, nestete caso Lula. O que queren é a continuación das mesmas políticas neoliberais, e por ese motivo estiveron investindo no chan, atacando a moeda...
(...)
Porén estas políticas neoliberais tamén minan a democracia, o cal é moito máis importante: retiran o poder de decisión dos países dándollelo aos inversores internacionais, propietarios, etc.
(...)
Brasil, como consecuencia das políticas neoliberais de Cardoso, ten unha gran débeda. Pediu un empréstito ao FMI e concedéronllo, un grande empréstito, pero cunha condición: quedaba conxelado até despois das eleccións, e o novo presidente vai ter que seguir as regras do FMI, o cal significa esencialmente continuar a mesma política. É un estrangulamento do país. A única escapatoria é máis ou menos revolucionaria(...)".


A raíz disto nom é muito difícil compreender as dificuldades para aprofundar as mudanças no Brasil: para defender o médio ambiente, as minorias, a pobreza e a miséria, etc. Nom é por acaso que o Movimento dos Sem Terra (MST) esteja cada vez mais enfrontado com um Lula da Silva que nem ganha o apoio dos grandes terratenentes e capitalistas nem da sociedade civil mais ativa, ou seja, um modelo pronto para o fracasso e o desalojo do poder. Tampouco é casual que as socialdemocracias mais ou menos revolucionárias tardaram tanto em emerger em América Latina, a pesar dos problemas que atravessa, lembremos o Chile de Salvador Allende.


Jean Ziegler recreiava dados sobre o Brasil. O MST é o movimento mais forte da sociedade civil brasileira, pois 4'4 milhons de camponeses nom tenhem terra e nunca se chegou a desenvolver umha reforma agrária desde o tempo da ocupaçom e extermínio português. Quando em 27 de outubro de 2002 Lula ascende ao poder com 60% de apoio tentava desenvolver o Programa Fome Cero, 41 medidas encaminhadas para acabar com a fame, mas isso tornou-se missom impossível dados os 235 milhons de dólares que Brasil adivida ao regime Dólar-Wall Street através do Banco Mundial (BM) e o FMI, as instituiçons de governança global. Noutras palavras 52% da riqueza nacional do Brasil pertence à banca angloamericana por dívidas contraídas por ditaduras militares e presidentes ultraliberais. Fica, entom, claro que nom hai soluçom interna para "domesticar o capitalismo" o único possível é umha alternativa sistémica, anticapitalista sobre valores que incorporem o socialismo libertário, o decrescimento e a irmandade entre os povos.


David Harvey assinala com lucidez que a socialdemocracia é um "lujo" que desenvolve o capitalismo em períodos de bonança, como nos Trinta Gloriosos (1945-1975), mas que sofre umha espetacular queda quando se dam períodos de redistribuiçom e acumulaçom do capital em cada vez menos mais como na atualidade. Precisamente esta acumulaçom tam desproporcionada é a que remata por destruir isso que se denomina a "economia real" e dá passo a conflagraçons como a atual ou a da década de trinta. O keynessianismo, implementado na altura com umha correlaçom de forças diferente a atual e sem o problema ecológico sobre a mesa, é hoje umha soluçom apenas curtopracista tanto para Harvey como para Daniel Bensaïd, que opom o marxismo e o seu projecto a longo prazo com a miopia e as contradiçons do keynessianismo.




No entanto, coindiomos com Alex Callinicos em que a socialdemocracia, e sobretodo o socialismo libertário ao nosso ver, podem implementar valores éticos que corrijam o déficit ético do marxismo - como reaçom de ascendência hegeliana aos princípios normativos abstratos de Kant e como reaçom aos socialistas utópicos-. Temos presente pois, a crítica à socialdemocracia da esquerda real e fazêmo-la nossa como já Marx salientava em a Crítica do programa de Gotha, porém somos tamém conscientes de que é necessário ser conscientes de que "a meirande parte da xente que resiste ao capitalismo tende a facelo nunha dirección reformista. ¿Como podemos conseguir que se volvan revolucionarios? O xeito de facelo non é tentar evanxelizalos, senón participar en movementos que loitan polas reformas, descubrindo así as súas limitacións". Porque como Ziegler indica "Mao Tse-Tung dicía que hai que derrotar os inimigos un por un, e non todos xuntos. Non podes enfrontarte ao mesmo tempo cos banqueiros, con Blocher, coa mafia, coa socialdemocracia... Hai que ir un por un".


Boa leitura.

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